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sexta-feira, 28 de março de 2014

Sexta Do Horror #17- Click.

Dessa vez não tem música. Tente ler em um lugar quieto. Sem barulho.
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                                                   -Click.


Algo tinha me incomodado o dia inteiro. Algo importante. Algo de que eu deveria me lembrar. Mas eu não consegui. Por mais que eu tentasse me lembrar, eu simplesmente não conseguia.
Normalmente, se o trânsito não atrapalhasse, eu estaria na estação às 7, enchendo minha garrafa térmica antes que qualquer um do meu esquadrão estacionasse o carro. Dorothy seria a única lá, saindo do seu turno de vigia noturna assim que eu sentasse na minha mesa. Mas o trânsito hoje estava um inferno, e eu acabei chegando 7:15, e Dorothy me olhou com um sorrisinho, como se fosse comentar como é raro eu me atrasar.
7:30. Olhei no calendário. Cinco de Março. Ainda não fazia idéia. O que que tem hoje? Eu olhei na mesa procurando pistas, no meio das montanhas de papéis desorganizadas e tudo mais. Meu distintivo. Foto da minha esposa. Declarações. Informações judiciárias.


Click.


Eu devia estar no tribunal. Como eu fui me esquecer? Eu olhei as horas. Merda. 7:45. Eu iria me atrasar. Mas antes tarde do que nunca. Eu saí correndo do prédio e entrei no carro. Leva vinte minutos pra chegar lá. Eu cheguei em dez.
10:15. O café estava frio. Eu tomei um gole assim mesmo. Sortudo saiu sem problemas. Aprisionamento. Que piada. Os amiguinhos dele não serão tão sortudos, eu tive certeza disso. Entrei no carro e vi os carros na rua desacelerando enquanto andavam. Eles sempre faziam isso. Menos um cara num Camaro preto- ele estava indo rápido. Alguém vai cuidar dele. Eu procurei um cigarro na minha jaqueta. Nada.


Click.


Eu os deixei em minha mesa. De novo. Essa era a segunda vez na semana. Rowley fuma. Vou pegar um dele.
14:00. Rowley ainda estava na patrulha. Eu queria ligar o radio só pra pedir um cigarro. A vontade me deixou muito agitado.
Às 14:45 eu fui chamado no escritório do capitão sobre uma ameaça de morte. Uma ameaça de morte pra mim. Aparentemente, não aceitar propina do cartel era uma pena de morte. Eu disse não à sua oferta de folga, mas concordei em parar de “trabalhar demais”.
16:30. A estação estava mais quieta que o normal. Algo parecia estranho- uma vibração estranha no ar. O que há com John? Todo vez que o via olhando pra mim, ele virava a cara imediatamente. Tem algo na minha cara? Eu passei a mão pra checar.


Click.


Eu esqueci de me barbear. E daí. Eu ia sair em meia hora de qualquer jeito. Queria muito tomar um banho.
17:20. O trânsito estava um inferno de novo. Gotas de chuva faziam um batuque no teto do meu carro. Os limpadores do para-brisa faziam aquele barulhinho irritante. Um idiota me fechou.
Lá pelas 18:05, eu cheguei em casa. O carro da minha mulher não estava lá. Ela geralmente já está em casa essa hora. Eu fiquei no carro por mais um minuto, olhando em volta, sem saber o que eu estava procurando. Só meus instintos fazendo seu trabalho, eu acho.
Eu saí do carro e andei até o meio-fio. Eu vi um carro preto estacionado na rua, meio quarteirão abaixo. Eu não sabia que tipo de carro era. Era difícil ver com a chuva. Se eu fosse adivinhar, diria que era um...


Click.


... um Camaro. Como aquele que eu vi correndo pelo tribunal de manhã. Meus músculos enrijeceram. Eu me agachei e voltei cuidadosamente até o carro. Me escondi atrás dele e dei uma olhada na entrada da minha casa.
As cortinas se mexeram. Alguém estava me observando de dentro da minha casa. Eu tinha certeza. Puxei minha arma.
Eu dei a volta até chegar nos fundos da casa, indo cuidadosamente pelas sombras. Eu devia chamar reforços, pensei. Eu instintivamente puxei o meu cinto, onde geralmente ficava meu radio.


Click.


Nada. Eu havia deixado ele no carro ou na estação, mas não era tempo pra pensar nisso. Eu peguei meu celular e decidi ligar pro meu parceiro.
Eu pensei um pouco. Pensei em minha esposa. Achei melhor ligar pra ela antes. Ter certeza de que ela estava bem. Liguei.
Tocou.
O telefone estava na casa, mas ninguém atendeu. Foi pra caixa postal.
Um sentimento pesado caiu em meu peito. O carro preto. A ameaça de morte. Aquele sentimento estranho o dia inteiro.
Eu apontei minha arma à minha frente e dei três passos pra trás. Então corri e chutei a porta bem ao lado da maçaneta. A porta abriu com tudo.
Meio segundo depois, alguém pulou de um lado. Meu dedo estava no gatilho. Eu o puxei.

BAM.

18:15.
As luzes se acenderam. Dorothy gritou. Rowley saiu lentamente de trás do balcão. Os outros saíram do esconderijo. Estavam boquiabertos, mas não diziam nada.
Minha esposa estava deitada numa poça de sangue bem na minha frente.


Click.


Era meu aniversário.

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Olha, é bom estar postando de novo. E essa história é animal.

Até mais.

-Leo

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